Passeava-me pelo Chiado, pessoas e mais pessoas com sacos e sacos e mais sacos. Lojas com grandes promoções e apelos ao consumismo. Não passou já o Natal? Terão as pessoas assim tanta coisa que não gostaram ou tantas meias com número errado, a precisarem de ser trocadas? Enfim, lá ia eu a fazer o que tanto gosto. Observar. Nas ruas, tocava um rapazinho com as suas tranças rastas, dando até vontade de dançar ao ritmo alucinante do seu reggae. As pessoas paravam junto à entrada das lojas, umas olhando para o talão, outras retirando os objectos adquiridos dos sacos, verificando-os. As crianças, na sua grande maioria era levadas a reboque e iam olhando à volta, apontando o dedo para isto ou para aquilo, enquanto os pais seguiam imersos nas suas próprias conversas e raciocínios incorrompíveis pela dispersão chata e infantil daqueles seres com preocupações igualmente pequenas.
No meio de tudo isso, mesmo ao cimo da rua, lá estava ele! O palhaço! Distribuindo sorrisos, plantando gargalhadas e oferecendo balões com formas redondas e apetecíveis. Ora desfilaram flores, corações com gaiolas, mais flores, chapéus, espadas...
Nestas encruzilhadas da vida, tive a oportunidade de conhecer um palhaço e talvez isso me tenha feito hoje parar e observar com mais atenção o palhacinho que era um foco de alegria, pureza e honestidade de ser, precisamente ali. Não há coincidências. Precisamente ali. E é engraçado reparar que quem lhe presta mais atenção são precisamente as crianças. Eu estive para aqui a reflectir sobre isso e talvez seja porque talvez elas não tenham esse receio de partir para o inusitado, de expressar de forma límpida e sentida a gargalhada e de abrir o coração sem medos.
Ser palhaço para mim é uma forma de vida. Admiro-os. A forma feliz e desinteressada como levam a vida, apesar de tudo o que também carregam às costas. O lado quase ermita com que se vão deslocando pelo coração das pessoas, lembrando-lhes que todos possuimos uma criança interior que precisa de ser liberta e respeitada. E como eles o fazem tão bem. Só nós é que - na grande maioria das vezes - fazemos ouvidos moucos a essa lição. Pois hoje coloquei-me a jeito. E ele encheu-me o coração de luz, de verdade nas coisas que faz e no que é e - acredito - afastou algum comodismo materialista que por ali se passeava. Quando encontrarem um palhaço, parem, escutem e reflictam sobre o que eles vos ensina de vós.
Pergunto-me o que teria feito ele para mim? Deveria ter tido a coragem de lhe pedir.
Para o ano está-me prometido usar um nariz de palhaço. Obrigada
Bigpea! Estou ansiosamente à espera!