Íris vive num mundo de homens grandes, de fato e gravata, muitos cinzentos e com barbas muito longas. As barbas longas são uma prova bem vivinha que os homens grandes são grandes sábios, pois viveram já muitos anos, discutiram, criaram cidades com torres altas que quase, quase, tocam os céus. E isso não se faz de um dia para o outro, não! Gasta-se muito papel, tinta de caneta e fazem-se muitas viagens, de uma ponta À outra do mundo, muitas até de avião!
Os homens grandes andam sempre de chapéu -de -chuva. Alguns até usam gabardina nos dias de sol pois, como dizem eles, " não vá o diabo tecê-las". E têm leis! Muitas leis. Leis para sair à rua, para construir as suas torres altas e até para para viajarem de m local para o outro, e ficarem velhos, barbudos e sábios. Só que o que intriga Íris é porque não são estas leis iguais em todo o lado, se somos todos iguais?
Os homens grandes também falam sempre de... Bolas! De.. Direitos!! E deveres! Direito de ter um emprego, dever de trabalhar, direito de ganhar dinheiro, dever de pagar as contas aos homens ainda maiores. Esses homens que são como os guarda-chuvas, protegem os homens grandes dos azares do mundo, menos quando cortam a barba e perdem sabedoria. Às vezes, a menina perde-se na lista interminável de direitos e deveres que nunca termina!
Mas há uma pequena coisinha que põe a menina a pensar muito: porque se esquecem tantas vezes os homens grandes das crianças pequenas?
Primeiro pensou que fosse uma questão de tamanho. às vezes os homens grandes passam pelas crianças pequenas e nem as vêm, especialmente quando estão preocupados em segurar o guarda-chuva. Mas depois percebeu que não devia ser nada disso, pois costumava ver a menina Magali a puxar as calças do Pai Abel quando ele estava a ver o Benfica e ele, olhar para ela, mas logo de seguida continuar a ver a Tv. E olhem que o Pai Abel e dos grandes e viu-a!! Todinha!
Depois pensou que era por as crianças pequenas não gostarem de usar guarda-chuva e, no seu lugar, trazerem na cabeça um arco-íris que reflecte a luz do sol, mesmo naqueles dias em que chove a potes. Pior! Elas não só não gostam de gabardinas, como gostam de chapinhar na água e de usar galochas amarelas.
Até que um dia, chegou à seguinte conclusão: O problema dos Homens Grandes é que as suas leis nao são feitas com o coração e, por essa razão, os homens grandes precisam de continuar a usar o guarda-chuva, que lhes protege a cabeça que pensa. Então, nesse dia, a menina soprou um dente de leão, daqueles grandes e cheinhos e disse baixinho :
" Eu, desejo que todas as crianças pequenas nunca deixem de viver dentro dos homens grandes, para que os homens grandes, todos os dias, perguntem ao coração se a razão tem coração". E, na sua cabecinha, um mundo de homens grandes sem chapéus de chuva e com um arco-íris à cabeça, desfilavam felizes pela vida.