Quando era jovenzita - mais do que hoje - escrevia muito. Sobre o que sentia, sobre o que não conseguia dizer em voz alta e que consistentemente calava cá dentro. Depois, quando me apercebi do que aquilo que escrevia era sempre triste e profundo, decidi calar-me de vez. Não queria preencher os papeis com palavras tristes. Então, deixei de escrever. Tal e qual assim. Perdi a vontade. Passaram meses, anos. Quando criei este blog, muito por incentivo do Jorge, percebi que poderia utilizar a escrita de uma forma positiva e optimista. Na verdade, o que por aqui tenho deixado deixa-me feliz porque revela a pessoa optimista e mais cheia em que me transformei , passados todos esses anos de silêncio. E por essa razão, me calei durante este tempo. Porque não queria de todo regredir, olhar para as palavras que não deixaram de ser abstracções mentais e transformá-las num Eu que existe em mim, tal como o passado conflui no presente e se projecta no futuro. Por isso não escrevi. Não escrevi de todas as vezes que abri esta janelinha e apagava, segundos após, os poucos caracteres de introdução ao que sentia. E mantive-me perto e longe daqui e de mim. Podia ter-vos falado de como me despedi do emprego em que pensava que ia ser feliz em tempos de crise, podia falar-vos em como me assustou pela primeira vez não saber o que fazer a seguir, podia falar-vos dos dias em que me recolhi, da saudade e dos sentimentos, muitos, que me assolaram durante este tempo. Mas prefiro falar-vos de alguém que mais um vez está pronta para a luta e que sabe que na vida tudo é mutável, e que o principio de estabilidade é externamente efémero e internamente fundamental. Estou de volta.