Carta
Carnaxide, 5 de Julho endereçado a: Rua do Amor, nº3, gaveta direita
Olá Coração:
Sei que esperavas que outra pessoa te escrevesse uma linda carta de amor. Mas como tão bem sabes não há correspondente póstumo. Terminadas as andanças dos últimos tempos não te tratei muito bem. Sabes que não foi por mal. É endurance reumatizada que me faz colocar em posição fetal, de recolhimento, perante o desconhecido. Desculpa. Eu tentei. Deixei que te enchesses de sonhos e esperanças, de paixão e na hora H fui um tanto ou quanto cobarde e não te deixei pulsar. Mas tu não és fácil. Tenho que to dizer. és complexo e grande. Cheio de gavetas e esconderijos secretos. Tanta gaveta por abrir. Não sei o que, particularmente, esperas com tão grande multiplicidade mas provavelmente também te esqueces como espartilhar o amor não é torná-lo maior, embora haja também casos em que a divisão engrandece. Não me pareceu que este fosse um desses casos. E todos os sentimentos e pequenas memórias, todos os acontecimentos e pequenos ralhetes da vida... chiça que este foi dos grandes. Mas é bom saber-te vivo e de boa saúde pois como já dizia o outro - seja lá quem ele fôr - coração que não sente não é... Ora pois aí está! De uma forma um pouco encarquilhada esta é a minha forma de te agradecer o valente apertão que me deste. É que é uma sensação do caraças sentir-me viva. Demorei o tempo que precisei. Foi uma gravidez emocional gigantesca. Mas finalizou. Superado. Amo-te muito coração. Assim como daqui aquela Lua. Novos ciclos. Novas aprendizagens. O mundo esse nunca deixa de rodar.
da sempre tua.
Susana
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