quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Carta a ti


A ti:

Se há dias em que aprendi coisas relevantes foi hoje. Hoje foi um dia dificil. Partiste ontem. Depois de um estado prolongado, vitima de um problema de foro oncológico partiste . E eu tenho a minha forma pacifica de ver a morte. Que a maior parte das pessoas não compartilha. A morte não me assusta. Nem a minha, nem a dos outros. Eu vejo a minha vida desde muito menina como uma possibilidade de crescimento. Não acredito em Céus, nem em Infernos porque para mim há algo de muito mais universal do que esse dualismo reduccionista a que o Homem se apegou, humanizando-se. Eras a pessoa com quem eu tinha maior dificuldade de me relacionar. Não interessa nem o porquê nem o porque não. Tu sabes-o bem demais para valer a pena põr por palavras. Eras-o efectivamente. Acho que todos o temos na nossa vida. Mas eu estava habituada a ser capaz de aceitar os outros como eram. Mas a ti nunca o consegui verdadeiramente. Havia em ti um despropósito funcional de espelho em mim que me causava naúseas. Mostravas-me a mim Susana - que até acha que não tem mau feitio -, uma Susana intransigente na sua vontade, intolerante perante a intolerância ignorante de quem não faz por mal, faz porque não sabe fazer melhor. Talvez não tenha havido alguém com quem eu tenha batido tão afincadamente o pé do que contigo. Achava-te tantas vezes estúpida na tua forma de ser, de tratares de ti, de olhares e pensares os Outros. E dizia-te tudo porque contigo os meus limiares de paciência infinita que tinha - e tenho - guardados aos kilos no coração, eterizavam-se de um segundo para o outro, com a tal rapidez com que um rastilho arde.

E isso assombrou-me durante tempos. Porque eu Susana eu era Perfeita! E não podia ter falhas de caracter tais!Até que me aceitei. Eu sou e serei sempre a Susana que não se cala perante o que considera errado. Que não se importa de entregar manifestos sozinha mesmo que isso implique ser despedida, de fazer greve de fome, de se insurgir contra o politicamente correcto. Mas também sou uma Susana Imperfeita. E convivo melhor com essa Imperfeição. Só não consegui conviver bem com a tua. Desculpa-me por isso. Mas esta sou eu. E eu dei-te tudo até ao meu limite. Porque ainda o tenho.

Sei que tinhas sonhos para mim, muitos e bonitos. Mas tal como tu seguiste o teu caminho eu estou a seguir o meu. Há quem não perceba. Quem vá demorar a perceber o alcance das minhas decisões mas foste tu também que me ensinaste, pelo que lia em ti ,que as escolhas têm que ser nossas para a vida ser igualmente nossa. Eu não vivo segundo guiões de autorias desaveças à verdade do meu ser. Não digo que não vá errar. Ai vou!!!Mas vou errar eu. Por minha escolha. E se é assim que se aprende, no eterno jogo da tentativa e erro é assim que eu vou crescer ainda mais como pessoa. Eu vivo o melhor que sei, com aquilo que tenho e sou. Neste momento isso basta-me. E sou feliz por finalmente ter as rédeas de mim mesma e estar a trotar ao meu ritmo e ao sabor da minha vontade.

Tu estás bem que eu sei. Também seguiste o teu caminho, porque para mim isto são tudo encruzilhadas enormes de caminhos, multiplas possibilidade de se Ser. Aprendeste e deste a ensinar. Nada há para perdoar ou esquecer. Só há para crescer. Crescer, crescer, crescer. Era isso que me inflamava em ti. A tua recusa em crescer. Inflamava-me porque me esqueci de uma verdade tão fundamental: Cada um tem o seu ritmo. E tu não tinhas o teu sintonizado com o meu. Nem eu o meu sintonizado com o teu.

Escrevo-te aqui, porque me ligo melhor a palavras do que a ritos. Porque para mim a divindade está em cada um de nós e na forma como nos expressamos e eu, tu sabes, eu expresso-me por palavras. Não consegui acentar durante estes dias. Porque tu sabes que há quem precise demim agora. No fundo não precisam demim, precisam de amor, eles é que não sabem. Mas como o pai dizia hoje "sofre-se, chora-se e segue-se a vida". Este foi o espaço para colocar a dor. Não a quero levar mais comigo, já aprendi com ela o que tinha a aprender.
Mas sabes, um dia o mundo hade ser só amor, respirar-se-á amor. E todos viverão felizes porque têm o essencial: o amor incondicional. Aí seres como tu, poderão fluir com facilidade e crescerão tão mais felizes. Mas não te preocupes. Tu agora és Luz e Amor.
Deixo-te um lirio amarelo com a promessa de que plantarei 65 lirios amarelos em tua honra. Lirios porque o significado do meu nome está-lhe associado, amarelo bem sabes porquê. Serão a minha homenagem a ti. Que o teu espirito se perpetue harmoniosamente com a natureza.
Como bem viste, porque não tenho jeito para despedidas e - acima de tudo - não acredito nelas, digo até mais tarde que o dia de amanhã já aí vem. Obrigada pelo desafio que foste.

Susana


11 wake ups:

Sávio Fernandes 19 de dezembro de 2008 às 09:05  

Depois de um post desses, deixa-se 2 beijos. E um abraço apertado.
[Eu não sei mais. /: ]

Nuno 19 de dezembro de 2008 às 10:27  

Eu não sei lidar muito bem com estas situações. Digo apenas que sinto muito, dou um abraço apertado e afasto-me.

Um beijo,
Nuno.

Cor do Sol 20 de dezembro de 2008 às 00:20  

Eu lido mal com a morte, ou melhor, com a perda fisica permanente de alguém que me é importante. Está a fazer um ano que perdi uma das pessoas mais impotantes da minha vida e o que me ajudou muito foi escrever e publicar textos no meu antigo blog sobre ela, sobre a minha dor de a ter perdido e a minha alegria de a ter tido na minha vida.

Nao há nada que nos digam que nos possa tranquilizar ou confortar. Nós temos que nos valer e o tempo encarrega-se de atenuar a dor.

Um grande beijo

Cor do Sol 20 de dezembro de 2008 às 00:22  

Gosto da tua selecção de músicas :)

aespumadosdias 20 de dezembro de 2008 às 09:00  

A morte de alguém que nos é próximoé terrível. Abala-nos!
Mas a vida continua e temos de continuar a lutar por melhores dias.

Anónimo 20 de dezembro de 2008 às 11:54  

Cada um de nós relaciona-se de modo diferente com a vida e com morte.
Uma homenagem honesta e muito bonita.

Rafeiro Perfumado 20 de dezembro de 2008 às 14:54  

Que texto tão belo, Susana, já valeu a pena retribuir a visita. Não vou arriscar dizer de quem te despedes, mas vou-te dizer o que penso da morte, graças a uma frase duma canção qualquer:
- Eu não tenho medo da morte, simplesmente não me apetece morrer.

Um beijo!

Psiquiatra Angustiado 20 de dezembro de 2008 às 20:06  

Um texto belíssimo e muito sentido. Vem de dentro, é real. Uma bonita homenagem

Jorge Freitas Soares 21 de dezembro de 2008 às 22:41  

Tu podes não ser perfeita, ninguém é, mas do pouco que te conheço, e tenho a certeza que haverá muito mais que quilo que já pude ver, és uma pessoa enorme.

Um beijinho
Jorge

Last Lion 24 de dezembro de 2008 às 05:53  

confesso que revi nas tuas palavras o que passei a coisa de 3 anos e meio...
Fiquei comovido, sentido, nostalgico, saudoso... fizeste-me pensar em quem perdi!
A homenagem sentida que fizeste é das mais lindas que já li.

Beijokas.

lady.bug 28 de dezembro de 2008 às 21:54  

UPA time!

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